Poderíamos começar dizendo simplesmente “o time que revelou Pelé” e seguir daí. Mas, além de ferir as doutrinas cartesianas da ordem cronológica que impera por aqui, ainda iríamos acabar partindo para uma biografia do homem, ou no mínimo da Era Pelé, e não do clube. Com isso, seríamos injustos. Porque, por maior que Pelé tenha sido, o Santos tem glórias o suficiente conquistadas antes e depois dele (ou d’Ele?) para ter lugar de honra na galeria dos grandes clubes do Brasil.
Tudo começou em 1912, dia 14 de abril, quando Raymundo Marques, Mário Ferraz de Campos e Argemiro de Souza Júnior organizaram uma reunião no Clube Concórdia de Santos para decidir sobre a criação de uma agremiação dedicada ao futebol. Entre uma série de propostas – como “Brasil Atlético”, “Euterpe” e manter o nome “Concórdia” – imperou a lógica direta e reta. Clube de futebol, em Santos, que fosse Santos Futebol Clube mesmo.
Araken Patuska
Uma coisa é montar um clube, outra é reunir as camisas, juntar a garotada, acertar o calendário e colocar um time no campo para valer. O processo todo demorou quase seis meses: em 23 de junho houve o primeiro jogo-treino, contra o Thereza Team; só no dia 15 de setembro o Santos fez seu primeiro jogo oficial – vitória de 3 x 0 sobre o Santos Athletic Club, mais famoso como Clube dos Ingleses, que existe até hoje, sem time de futebol profissional. Tudo ia caminhando até que bem a não ser por um detalhe bem perceptível: branco, azul e dourado não eram exatamente as cores que mais combinavam no planeta e, além do mais, produzir uniformes com detalhes em dourado não era tarefa fácil na época. Foi então que o sócio Paulo Pelúccio, no dia 13 de março de 1913, fez uma nobre sugestão, embasada na representação “da paz e da nobreza”. Pronto. Preto e branco, quer combinação mais fácil? Com quase um ano de vida, o Santos podia enfim virar o “alvinegro praiano”.
Demorou para o Santos engatar a ponto de ser uma força do futebol paulista (e não apenas da Baixada; dos clássicos contra o Jabaquara e a Portuguesa). Mas ainda assim o clube foi pródigo em ídolos de primeira grandeza desde o começo: um dos primeiros foi Ary Patusca, que vestiu a camisa entre 1915 e 23. No mesmo ano em que saiu, começou a formar-se o “Ataque dos 100 Gols”, com a chegada de seu irmão Araken Patusca, na época com 16 anos. Mais tarde chegaria outro astro, Feitiço, e era esse o carro-chefe da linha de frente que foi três vezes vice-campeã paulista, entre 27 e 29 – sempre chamando atenção pela profusão de gols marcados. Siriri, Camarão,Feitiço, Araken Patusca e Evangelista. Os cinco nomes assim, nessa ordem, caíram na boca do povo. Era a primeira vez que acontecia isso com um ataque do Santos, mas não a última.